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Theo e João, a dupla que fez Itabaiana refletir

  • boletimserrano
  • 6 de out. de 2020
  • 2 min de leitura

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No início deste mês de outubro , dois fatos distintos e, ao mesmo tempo semelhantes, ocorreram na nossa Grande Itabaiana. Aconteceram justamente em um momento de Pandemia que vivenciamos de maneira tão intensa e questionadora sobre nossos comportamentos e o perfil da nossa sociedade. Não bastasse tudo isso, ainda estamos acompanhando uma campanha eleitoral. (aqui pra nós: isso na nossa querida terra pega fogo!)


No primeiro fato, temos o Theo: um cão bem cuidado e agora, podemos considerar, um animal famoso. Theo, diferentemente de João, tem uma vida de grã-fino. Vive nas mordomias de uma sociedade pós moderna, rica em aparência, mas pobre de espírito. Rica em crenças, crédulos, mensagens "plásticas", mas mísera em crítica social e à realidade. Importante nas redes sociais, mas fútil na vida comum.


Theo é mais um pet domesticado por uma sociedade pseudo burguesa. Theo encontra-se nos lares de quem não enxerga um palmo sequer da miséria existente no nosso país. Theo é a representação clara da nossa sociedade falida: por dentro, os seus valores; por fora, as desigualdades existentes. Enquanto o "dog" se enchia de mimos e riquezas em um mega aniversário, milhares de cães famintos perambulam rua abaixo pela cidade. Se formos além, 34 mil crianças e adolescentes, neste momento, são abrigadas em casas de acolhimento e instituições públicas por todo o país.


A humanização de Theo, nos apresenta a desumanização do ser humano. E nos faz questionar: será que realmente os indivíduos desacreditaram nas relações humanas? Essa superestimação do animal não seria uma tentativa frustrada de fugir daquilo que é nosso de natureza: as nossas relações? O aniversário de Theo foi comentário na cidade, objetivo daqueles que utilizam da futilidade e das aparências para se sobressaírem nas redes sociais.


Diferente de Theo, João não teve a mesma sorte. João nasceu nas ruas. É mais um resultado da omissão social. Diferente de Theo, um sptiz alemão, João é mais um vira-lata abandonado e esquecido por uma sociedade. João está entre os milhares de cães espalhados pela cidade. João não representa riqueza para a sociedade fútil. Não representa grandeza. O erro de João foi ter nascido vira-lata. O erro de João foi estar onde não poderia: nos bairros luxuosos da cidade. João escancara a necessidade de mais políticas públicas e, principalmente, da omissão de uma sociedade que deseja glamour com seus pets e viram as costas para os cães sem raça.


Ontem, João escancarou a podridão da humanidade. Se por um lado, somos fúteis com os cães pets. Por outro, somos omissos sobre a realidade dos cães sem teto na nossa cidade. João foi atropelado covardemente, justamente por um indivíduo pertencente à mesma sociedade de Theo: a velha elite da cidade. A mesma que se expõe maravilhosamente sobre seus lindos pets, mas esconde debaixo do tapete as suas contradições e o seu superficialismo.


João foi vítima da insensibilidade humana e, assim como Theo, vítima daqueles que usam da futilidade para se envaidecer. Diferente de Theo, João teve sua vida ceifada para escancarar a maldade do ser humano. E nessa insanidade social, parece-me que os extremos explicam a nossa atual sociedade falida: se por um lado há uma superestimação e humanização do animal; Por outro extremo, há uma falta de sensibilidade humana.


Alguém pare o mundo que eu quero descer.


Leonan Leal

Jornalista


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