Editorial: O coronavírus entrou de férias?
- boletimserrano
- 30 de nov. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de dez. de 2020

89.998. Estes são os números registrados, pelo último boletim epidemológico, de pessoas infectadas com o novo coronavírus em todo o estado de Sergipe. Mas ao que se parece, nos últimos meses, persistiu uma amnésia social e as pessoas esqueceram que existe um vírus silencioso, mortal e ainda sem adversário para combatê-lo - afinal, apenas medidas sanitárias, como o isolamento e o distanciamento social, são eficazes na prevenção do contágio, mas não suficientes para pôr fim ao vírus, já que as vacinas contra o covid-19 ainda estão em fase de testes. Agora, com o fim do segundo turno das eleições municipais em todas as cidades do Brasil, o balanço conclusivo que obtivemos dos últimos meses, foi um show de irresponsabilidade com aglomerações principalmente em carreatas, comícios e eventos políticos afins.
O coronavírus entrou de férias durante esse tempo? Mesmo com portarias expedidas por órgãos estaduais para a flexibilização do isolamento com o pressuposto da retomada da econômia, é justificável aglomerações com fins meramente políticos? E que essa pergunta não seja entendida como uma análise específica da política local, porque infelizmente a irresponsabilidade não ficou centrada à Itabaiana e a Sergipe, por exemplo; muito menos é restrita a um partido ou espectro político: o que vimos foi um afrouxamento considerável no isolamento e nas medidas sanitárias (como o uso de máscaras) minadas às eleições em âmbito nacional.
O que vimos nos últimos meses foi um grande circo e quem respeitou as medidas sanitárias saiu como o palhaço da história. Autoridades ou pessoas que almejavam um cargo público em todo o Brasil, respeitaram as medidas sanitárias depois de serem ameaçadas de pagarem grandes multas. O dinheiro vale mais do que a vida?
Vivemos em uma sociedade adoecida, e agora não é da pandemia que estou falando: porque nada é mais sintomático do que 20 mil reais de multa valerem mais que 20 mil vidas perdidas.
É difícil para um trabalhador e uma trabalhadora que precisam ganhar dinheiro para manter a casa e a família, entender a recomendação de ficar em casa e receber menos (ou nada) enquanto viam ruas lotadas por livre e espontânea irresponsabilidade. E sem entrar no mérito de que o isolamento não deve ser tratado como escolha, já que vivemos em uma sociedade de classes desiguais, transformando o que deveria ser direito de todos em privilégio para alguns.
Para deixar registrado de maneira que fique óbvia e explícita mais uma vez, porque ao que parece a interpretação foge de algumas mentes humanas, esse texto não busca culpabilizar mas provocar a reflexão crítica de como agimos nos dias atuais, em que vidas se tornaram números e o egoísmo predomina entre nós.
É impossível parar todas as atividades, porque em uma sociedade capitalista e sem o amparo necessário do poder público, quem paga a conta da paralização é o trabalhador com 5 filhos, que precisa pagar aluguel se não é despejado. Da mesma forma que é impossível se fazer de desentendido e ficar surpreso caso haja uma segunda onda mais intensa do covid e as cidades e estados voltem a fase vermelha nos números de casos e internação em leitos de UTI, porque o que vimos nos úlimos meses foram situações propensas à acarretar essa possibilidade.
O que não é impossível é que o mote "salve-se quem puder" se transforme em "salve o máximo que você puder". Ainda há tempo, por enquanto.
Tainara Paixão
Jornalista
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